Debian 11.02 Gnome: o progenitor

 Debian é citado no principal guia de OST como "progenitor" duma inteira família de sistemas operativos Linux. E, apesar de Debain ter nascido em 1993, ainda é produzido e distribuído. Será que vale a pena optar para o original esquecendo as derivadas como Ubuntu ou Mint?

Fruto do global The Debian Project, este sistema operativo está em circulação há quase 30 anos, durante os quais foi constantemente actualizado. Em Agosto de 2021 chegou a versão 11.2 Bullseye, aquela que vamos experimentar no clássico desktop Gnome. Não há versões pagas e também ainda suporta a versão de 32 bits para computadores mais antigos (algo cada vez mais raro).

Instalação: 9.0

Para esta instalação foi escolhido descarregar a versão netinstall. A diferença entre esta versão e as clássicas versões ISO é que netinstall não é uma imagem do sistema operativo mas entrega apenas alguns ficheiros de instalação. A vantagem é que o download supera de pouco os 300 Mega; a desvantagem é que para poder utiliza-la é preciso dispor duma ligação internet.

O processo de instalação é deveras simples: uma série de janelas com perguntas, depois parte a instalação. Tal como acontece nos melhores sistemas operativos. Tudo muito simples.

Durante a instalação, Debian oferece a possibilidade de escolher o estilo da interface: das vária opções disponíveis (KDE Plasma, Lxde, Lxqt, Mate, Xfce e Gnome) aqui foi escolhida a versão clássica Gnome. Uma nota: dado que Debian aposta sobretudo na estabilidade, as interfaces alternativas não estão presentes na versão mais recente. Gnome, pelo contrário, está na versão 41.2 

Uma vez instalado, Debian ocupa no disco rígido um espaço de 4.3 Giga. Tanto para fazer uma comparação: é um quinto do espaço ocupado por Windows 11. Isso significa mais 16 Giga para as nossas músicas, vídeo, foto...

Como simples curiosidade, instalei também a versão Dvd. A vantagem em termos de tempo é mínima: netinstall acaba o trabalho em 14 minutos, a imagem ISO em 12 minutos. Mas isso não é tudo, como será explicado mais à frente.

 

Arranque: 6.5

Debian precisa de 24 segundos desde o arranque até o Ambiente de Trabalho, tempo que inclui a digitação da senha para aceder ao desktop. Um tempo razoável mas nada de especial.

 

Ambiente de Trabalho e Menus: 5.0

O desktop Gnome é particular, diferente daqueles presentes em outros ambientes Linux ou em Windows, por exemplo. Não há ícones no desktop e nem há um menu principal. A barra de tarefa (que está posicionada na parte superior do ecrã) apresenta a voz Atividades que abre um painel lateral onde estão reunidos os programas mais utilizados além dum comando para ver as restantes aplicações. Estas são depois apresentadas em forma de grelha que ocupa o desktop todo e através da qual é possível navegar com a roda presente no rato também. Outra barra, desta vez à direita, visualiza os vários ambientes de trabalho eventualmente já em uso.

É este um sistema prático? Pessoalmente não gosto mas admito que possa revelar-se prático, provavelmente até mais lógico do que o estilo clássico. Uma vez familiarizado, talvez possa ser mais rápido também.

Os problemas são outros: hábito e gosto pessoal. O gosto não se discute, o hábito é uma questão de... hábito: há muito tempo estamos habituados ao velho sistema, não sei se, além de trocar de sistema operativo, os novos utilizadores Linux estejam dispostos a mudar um costume tão enraizado numa componente tão importante do sistema. Provavelmente uma escolha mais clássica poderia atrair mais utilizadores Windows/Apple que tenham o desejo de trocar sistema operativo.

Uma nota acerca do estilo: o wallpaper pré-definido é muito escuro, a justaposição não está bem conseguida com a barra de tarefa negra. Felizmente, Debian vem equipado com um discreto conjunto de outros wallpapers, e muda-los é extremamente simples.

Tudo bem com as várias pastas de sistema: no painel lateral de esquerda é presente a voz que permite abrir a janela com as sub-pastas do costume (Documentos, Imagens, Música, Vídeo, etc.).

 

Programas: 3.0

Debian está apetrechado com uma discreta selecção de programas. Há tudo o necessário, mas há margens para melhorar.

A suite office é completa, o navegador é Firefox (mas em versão ESR), para o correio temos o óptimo Evolution. Depois Mapas (baseado no OpenStreetMap), o válido Rhythmbox para a música, Totem para os vídeos, vários jogos, Shotwell para visualizar/editar imagens, o excelente Transmission para torrents... até há Cheese para tirar selfies e a aplicação Meteo. Não daria para queixar-se... não fosse que esta dotação hoje é standard num qualquer sistema operativo Linux. E que Debian não costuma oferecer as ultimíssimas versões por uma questão de estabilidade: os programas são longamente testados pela comunidade antes de entrar a fazer parte do "pacote" Debian. 

Como sempre, é possível instalar novos programas com Aplicações, que apresenta os aplicativos disponíveis na "loja" de Debian. São muitos, o único inconveniente é o atraso no carregamento das miniaturas, substituídas por uma ícone genérica azul. 

Obviamente há sempre o Gestor de Pacotes Synaptic, autentica mina onde é possível encontrar mais de 58.000 pacotes prontos para serem instalados. Mas Synaptic tende a assustar quem nunca o utilizou... (dito entre nós: não há razões para isso).

Notas negativas: Debian não vem de raiz com Wine, a aplicação que permite rodar programas Windows no sistema Linux. É possível descarrega-lo de forma simples a partir da "loja", mas nesta não encontrei PlayOnLinux (que fica no Synaptic). Mau.

E nem há um programa que permita gerir graficamente o firewall (que nem é activado de raiz). Muito mau.

E mais: nem há uma aplicação para gravar Cd ou Dvd. Esquisito. Mas o pior ainda está porque, como explicado antes, por uma questão de curiosidade também instalei Debian a partir da imagem ISO. Enquanto o teste foi conduzido com a versão netinstall, a versão ISO foi explorada sem muita atenção, achando não haver nenhuma diferença significativa. Mas assim não é.

dpkg!

A "loja" dos programas (Aplicações) simplesmente não funciona, isso é: não mostra os programas que é possível instalar, apenas os instalados. Quando for efectuada uma pesquisa, por exemplo para procurar e instalar a interface do firewall (Gufw), a aplicação é encontrada mas não é possível instala-la e o mesmo acontece com todos os outros programas.

A explicação? O dpkg está corrompido e para corrigir o problema temos que utilizar o comando 'dpkg --configure -a' no terminal. Coisa que fiz. E aqui novo problema: não fui reconhecido como administrador do sistema (SUDO) e o incidente foi automaticamente reportado.


Isso é ridículo. Um utilizador que acaba de entrar no universo Linux não tem a mínima ideia do que possa ser o dpkg: custa tanto explicar em bom português o que é e qual a sua função? O dpkg é o programa que está na base da gestão dos pacotes Debian. Não custa muito escreve-lo, pois não? E qual o sentido de "correr manualmente"? Trata-se de utilizar o terminal, mas será tão claro aos olhos de quem estiver pela frente um sistema Linux pela primeira vez?

Um novo utilizador não tem a mínima ideia de como utilizar o terminal e duvido que tenha vontade de aprende-lo para uma tarefa como esta, que poderia ser apresentada de forma gráfica, acessível a todos.

Tentei resolver alterando a senha do administrador mas, mesmo assim, continuei a não ser reconhecido (e o incidente foi reportado, outra vez). Procurei na internet e vi que este problema já existia em Setembro deste ano: três meses e ainda estamos na mesma... na imagem ISO, pois na netinstall tudo funciona de forma correcta. Entre as outras coisas, o problema dpkg afecta o gestor Synaptic também.

Para concluir: acabamos de instalar o sistema e este não reconhece o utilizador na primeira ocasião em que são precisos os privilégios de administração. Isso impossibilita a instalação de novos programas. Uma forma muito rápida de afastar qualquer novo utilizador Linux.

 

Personalização: 2.0  

Possibilidade mínimas, inferiores àquelas já escassas oferecidas por Windows. Gnome é assim. Até mudar a cor do ponteiro do raro é "complicado".

Claro está, um utilizador Linux com experiência pode intervir em qualquer aspecto para muda-lo. Mas para isso é preciso ter um determinado conhecimento, que um utilizador que acaba de chegar dum sistema Windows/Apple não tem e talvez nunca terá vontade de aprender.


Redes e conectividade 5.0

Nenhum problema de conexão com a rede fixa. Diferente o discurso wifi: foram precisas três tentativas para pôr tudo a funcionar. Melhor a situação com o bluetooth, que funciona logo à primeira.

Uma forma de conectar smartphone e computador via wifi, como acontece em Zorin, por exemplo? Está disponível na "loja", é possível descarregar o óptimo KDE Connect. Mas considerado que a versão Gnome é o porta-estandarte do sistema Debian, não faria mais sentido inclui-la na dotação padrão? 

 

Multimedia 6.0

Os vídeos são abertos com Vídeos, que depois é uma versão do conhecido leitor Totem. A reprodução é fluida, sem problemas mesmo em 4K (ou Ultra HD), mas o programa não oferece as muitas opções típicas dum leitor bem apetrechado: VLC está a anos-luzes.

Ponto em favor: Totem oferece a função Canais que permite a visão de conteúdos da internet (mas também media locais, a partir do nosso computador) através da partilha UPnP/DLNA (Universal Plug and Play ). Nomeadamente estão presentes os canais da RAI (radio e televisão de Italia), do diário inglês The Guardian, os trailers da Apple Movie e o canal de notícias Euronews, mas é possível acrescentar mais. Não é um sistema multimedial como o Kodi mas é uma opção interessante.

E as músicas? Há Rhythmbox, uma das melhores escolhas na categoria dos reprodutores áudio.

Debian oferece também o Gravador de Som, aplicação básica que faz o que promete, mas, como antecipado, não há nada para gravar Cd ou Dvd: é sempre possível instalar um plugin para Rhythmbox, mas não é a mesma coisa. Trata-se duma escolha estranha: é verdade que os suportes Cd ou Dvd são cada vez menos utilizados, todavia é bom lembrar que, para a instalação do sistema Debian, o The Debian Project aconselha baixar o ficheiro de imagem ISO para depois gravá-lo num Dvd...

 

Gestão Recursos: 5.0

Debian, em condições de repouso, tem uma pegada bem visível na memória: 1.02 Giga, sem dúvida um dado longe de ser entusiasmante.

Mas o que mais indispõe é o trabalho do processador: sempre em condição de repouso, os dados indicam uma utilização de até 10% em cada processador, o que é muito para um computador que não está a fazer rigorosamente nada além de ficar ligado. Paradoxalmente, ao iniciar uma outra actividade, as utilizações sobem mas não de forma excessiva.

Pelo que, Debian não pode ser definido como um sistema operativo "leve", bem pelo contrário. 

Como sempre, é possível reduzir os gastos ao eliminar alguns serviços não utilizados que rodam em background, mas não é esta a intenção dos nosso teste.

 

Praticidade: 4.0

A avaliação é condicionada pelo típico desktop Gnome. Como afirmado antes, é possível que seja um sistema lógico e prático, mas é inegável que precise dum período de adaptação. Debian não deixa de ser um sistema que pode ser instalado e utilizado desde o primeiro minuto, todavia requer uma mudança na nossa forma de "ver" e utilizar os menus.

Continuo com a ideia de que, para tornar a transicção de Windows/Apple ainda mais rápida, seria melhor um sistema de tipo clássico, mais imediato. "Construir" o nosso desktop, tanto no aspecto gráfico quanto funcional, é um passo fundamental para tornar o nosso sistema operativo a melhor ferramenta de trabalho e/ou diversão, segundo as nossas exigências. Neste aspecto, Debian impõe limites bastante rígidos.

Como já lembrado, não há um programa que permita gerir graficamente o firewall, é preciso descarrega-lo. Mas com a instalação feita a partir da imagem ISO a "loja" teima em não funcionar e a solução não é tão simples. Isso também cabe na voz "Praticidade", pois "prático" tudo isso mesmo não é...

 

Manual: 5.5

A boa noticia: há. Vem de raiz com o sistema operativo e está bem conseguido. Não é um guia completo (e é justo que assim não seja), mas resolve as dúvidas mais comuns sem obrigar a consultar as páginas oficiais de Debian. Pode ser uma grande ajuda.

A má notícia: não está totalmente traduzido, algumas partes ainda estão em inglês como é possível observar na imagem acima. O que é esquisito: estamos a falar dum documento não demasiado grande, traduzi-lo não deveria ser tarefa demorada.

 

Conclusões: Média votos 5.10

Debian é um óptimo sistema operativo: não é possível sobreviver no meio informático quase três décadas, sendo ao mesmo tempo a base para um sem número de projectos derivados, sem apresentar fortes mais valias. E a mais valia de Debian é uma irrepreensível solidez. Não oferece experiências "futuristas", exactamente o contrário: o utilizador deste sistema quer em primeiro lugar estabilidade e isso é obtido percorrendo trilhos bem conhecidos. Debian nesta óptica é uma certeza: tudo na senda do conservadorismo e duma lenta evolução em vez de revolução.

Mas isso não é suficiente para tornar Debian o produto mais idóneo para os novos utilizadores Linux. Bem pelo contrário: Debian não faz nada para esconder as suas ligações com o passado e isso significa que é aconselhado a quem conhece o universo Linux e sabe como mover-se nele.

O juízo final seria superior se o objectivo fosse aquele de avaliar Debian como sistema por si só (neste aspecto, repito, é um bom sistema). Mas em OST o foco está nos novos utilizadores Linux, então não é possível aconselhar Debian como primeira escolha. Há muito pouco, quase nada que torne Debian "familiar" aos olhos de quem abandone um Windows ou um Apple: uma eventual transição para Debian precisaria duma learning curve (curva de aprendizagem) não indiferente.

A resposta à nossa pergunta é: não, não vale a pena optar para o original. Linux oferece muito mais do que isso.


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